Marcel de Lima Santos - O Tempo - 18 November 2013

TITLE: SENHORES E SENHORAS: O XAMÃ
AUTHOR: THIAGO PEREIRA
PUBLISHED: 18 NOVEMBER 2013
AVAILABLE: O Tempo


Marcel de Lima Santos lança hoje na UFMG o livro “Jim Morrison - O Poeta Xamã”, que une o cantor ao fenômeno


Um dos signos mais louvados da extensa (e fatal, em muitos casos) iconografia roqueira, Jim Morrison, o líder dos The Doors, é também motivo de estudos e reavaliações constantes mundo afora. Uma delas é o livro “Jim Morrison - O Poeta Xamã”, que Marcel de Lima Santos lança hoje na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em sessão dupla, pela manhã e à noite.

A obra é resultado da tese original de mestrado de Santos, produzida ainda no começo dos anos 1980. “É um estudo, uma inserção do Morrison na tradição dos, como diz Platão, possuídos pelo furor poético”, explica. “O que faço é um recorte dele enquanto poeta xamã, já que minha área de pesquisa é literatura e religião”.

Em um resumo grosseiro, o xamã seria uma espécie de sacerdote, um ser de vários saberes (medicinais, espirituais, filosóficos, políticos, artísticos) capaz de manifestar poderes incomuns, por meio de objetos, rituais, corpos. Em publicações anteriores, Santos trabalhou representações do xamanismo na América nos últimos séculos. “O fenômeno foi percebido de três formas”, enumera. “Primeiro, foi visto a partir dos contatos entre missionários espanhóis e nativos americanos como algo diabólico, nos séculos XVI e XVII. A partir do século seguinte, com as grandes viagens e explorações pelo planeta, ele passa a atrair o olhar europeu, move da repulsa para o exótico, e interessa a figuras como Goethe e Freud. No século xx, ele passa a ser assimilado pelo europeu, e muitas vezes copiado em termos estético e espiritual”, diz.

Jim Morrison seria uma das representações marcantes do fenômeno no século passado, uma espécie de tradução no mundo pop desta última fase. “Ele acreditava ser um xamã, assim como algumas pessoas em volta dele”, diz Santos. “Ele inclusive conta essa história no (livro de poemas) ‘An American Prayer’, de que ele, depois de um acidente automobilístico no deserto, foi possuído pelo espírito de um xamã. E muitos acreditaram na historia dele, que ele seria um cara no mínimo possuido por uma luz, que as canções eram todas recebidas por um ser superior”.

A obra de Santos traça estas conexões, portanto. Seu interesse pela obra de Morrison coincidiu com seu interesse pelo fenômeno xamã e a leitura de um escritor que também trabalhava essas perspectivas, Carlos Castañeda. “Ainda adolescente morei no México, e lá escutei The Doors pela primeira vez e enlouqueci, no bom sentido. Partindo daí, acabei me tornando um introdutor da obra do grupo para minha geração, já que o Doors esteve meio esquecido no período entre a morte de Jim e o início dos anos 1980. Calhou de eu estar fora nesse período, e ter contato com tudo isso antes”, diz.

Para o autor, uma das coisas mais importantes do livro são as traduções disponibilizadas para alguns poemas originais de Morrison. Mas a obra também dá a chance de uma nova geração, acostumada a ver a cara de Jim em pôsteres e camisetas em todo o planeta, entender que ele ia muito além de um rosto bonito ou de um roqueiro doidão. “Ele é uma figura incompreendida, mas vítima também de suas próprias escolhas”, afirma. “Ele se dizia poeta, mas ao mesmo tempo ele alimentou a imagem do pop star e se deixou levar pelo turbilhão da contracultura. Mas também dizem que nunca se viu Morrison sem um livro nas mãos, seja escrevendo algo ou lendo. Era mesmo um ser muito diferente do que a mídia ou o senso comum ditavam”.



Poesia

Jim Morrison tem extensa obra poética, além das letras das canções do seu grupo, The Doors, compilada em diversos livros, como “The Lords” (1969), “The New Creatures” (1969), “An American Prayer” (1970) e “The American Night” (1990).


Agenda

O QUÊ. Lançamento do livro “Jim Morrison - O Poeta Xamã”

QUANDO. Hoje, às 9h e às 19h

ONDE. Faculdade de Letras da UFMG (av. Antônio Carlos, 6.627, Pampulha)

QUANTO. Entrada franca